Ética; Consumismo; Qualidade de Vida; Alienação; Cultura

Ética, Consumismo, Qualidade de Vida, Alienação e Cultura são temas bastante discutidos atualmente. E, mesmo com conceitos e definições muito diferentes, existem relações enormes entre eles, já que consideramos que um gera o outro.
A maioria das pessoas, em nossa sociedade atual, são consideradas alienadas. Essa alienação leva as pessoas ao consumismo exagerado, pensando somente que sua qualidade de vida irá melhorar ou que sua cultura será ampliada. Tudo isso nos faz questionar sobre os princípios éticos da sociedade em que vivemos.
Como conseqüência deste fato, concluímos que a alienação de qualquer indivíduo é negativa quando ocorre o bloqueio mental e a carência de adquirir novos conhecimentos. O posterior consumismo gera uma falsa expectativa de qualidade de vida e cultura, deixando as pessoas com maior dificuldade de relacionamento dentro da sociedade. Então, nossos conceitos éticos podem ser aplicados, porém, nem sempre sabemos julgar de maneira correta os indivíduos que nos cercam.

Todos estes são conceitos filosóficos, que são inseridos e apresentados à sociedade em todos os momentos. É importante, então, que as pessoas tenham em mente o significado de cada um deles para que possam, em qualquer situação, entender melhor o funcionamento das sociedades. Este é um processo lento, gerador de inúmeras dúvidas.

E como já disse Aristóteles, "A dúvida é o princípio da sabedoria".

Com sabedoria, enfrentamos a alienação, o consumismo, a qualidade de vida, a cultura e os conceitos de ética pacificamente e de maneira adequada para todos.

Cultura: Hegel x Marx

Foi Hegel e, depois dele, Marx que enfatizaram a cultura como história.

Para Hegel
O tempo é o modo como o Espírito Absoluto ou a razão de manifesta e se desenvolve através das obras e instituições - religião, artes, ciências, filosofia, instituições sociais e políticas. A cada período de sua temporalidade, o Espírito ou a razão engendra uma cultura determinada, que exprime o estágio de desenvolvimento espiritual ou racional da humanidade - China, Índia, Egito, Israel, Grécia, Roma, Inglaterra, França, Alemanha seriam fases da vida do Espírito ou da razão, cada qual exprimindo-se com uma cultura própria e ultrapassada pelas seguintes, num progresso contínuo.

Para Marx
Há em Hegel um engano básico, qual seja, confundir a História-Cultura com a manifestação do espírito. A História-Cultura é o modo como, em condições determinadas e não escolhidas, os homens produzem materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão sentido a essa produção material. A História-Cultura não narra o movimento temporal do Espírito, mas as lutas dos seres humanos reais que produzem e reproduzem suas condições materiais de existência, isto é, produzem e reproduzem as relações sociais, pelas quais distinguem-se da Natureza e diferenciam-se uns dos outros em classes sociais antagônicas.

Pensamentos de Aristóteles

Conta Aristóteles em uma de suas obras, a Retórica, que certa vez a esposa de Hieron, rei de Siracusa, perguntou ao poeta Simônides o que valia mais: ser rico, ou ser sábio? "Rico", respondeu o poeta, "pois vejo os sábios estarem sempre batendo à porta dos ricos."

Nesta passagem referida, Aristóteles analisa o que seja a psicologia do rico. Vivem os ricos cercados desta idéia de poder, pois ocupam a muitos outros homens no cumprimento da sua vontade, e isto ocorre naturalmente, pois sao muitos os que tem necessidade daqueles que tem posses.Por isso, os ricos se acham no direito de comandar, pois tem aquilo por que vale a pena comandar, desde que coloquemos o problema da vida em termos de uma troca de interesses práticos.

Hoje em dia é fácil ver pessoas julgando que a riqueza é o melhor poder, só porque os ricos geralmente são grandes poderosos, isso faz com que as pessoas lutem pela maior quantidade possível de bens para ter cada vez mais poderes, ou seja, ter o direito de dirigir os demais homens.

Aristóteles diz que a figura do homem rico pode exprimir-se assim: tem todas as caracteristicas de um homem feliz, a quem falta, no entanto,o bom senso.

Simônides completa sua respota à esposa de Hieron. "Bem, é verdade que os sábios em geral batem à porta dos ricos, e que os ricos nao batem à porta dos sábios, mas, isto é porque os sábios sabem o de que precisam, e se os ricos não procuram os sábios é porque não conhecem quais são as suas necessidades."

Não estamos aqui para discutir problemas sociais, e sim para refletirmos sobre os valores da riqueza material e do saber. Nem todos tem a noção do poder que as idéias podem ter, basta saber organizá-las adequadamente.

Música

Vida Moderna
Bêca Arruda
Composição: Bêca Arruda

Meu amigo me disse que arrumou um emprego

Vai trabalhar sem gostar

Me disse também que vai ganhar muito dinheiro

Mas não sabe onde gastar

Quando era jovem ia mudar o mundo inteiro

Mas não soube aproveitar

E agora vive reclamando no banheiro

Sem ninguém pra escutar

Minha mãe me disse não se vive sem dinheiro

Mas não sei como pescar

Me disse também que ter diploma é importante

Um papel que fica na estante

Quando eu tocava me chamava vagabundo

Eu era bem diferente do mundo

E quando eu falava tantas coisas com sentido

Perguntavam onde eu tinha aprendido

Como é que eu vou sonhar

Crianças dormem nas calçadas

Como é que eu vou sonhar

Com o mundo invadido pelas maquinas

Como é que eu vou sonhar

Se o ser humano já tem um preço

Como é que eu vou sonhar

Se todo mundo já tem meu endereço

Cultura

"Pedro é muito culto, conhece várias línguas, entende de arte e de literatura."
"Imagine! É claro que o Luís não pode ocupar o cargo que pleiteia. Não tem cultura nenhuma. É um semi-analfabeto!"
"Não creio que a cultura francesa ou a alemã sejam superiores à brasileira. Você acha que há alguma coisa superior à nossa música popular?"
"Ouvi uma conferência que criticava a cultura de massa, mas me pareceu que a conferencista defendia a cultura de elite. Por isso não concordei inteiramente com ela."
"O livro de Silvia sobre a cultura dos Guaranis é bem interessante. Aprendi que o modo como entendem a religião e a guerra é muito diferente do nosso."

Essas frases e muitas outras que fazem parte do nosso dia-a-dia indicam que empregamos a palavra cultura em sentidos muito diferentes e, por sua vez, contraditórios.

Cultura pode ser empregada indicando posse de conhecimento, sugerindo prestígio e respeito, como se "ter cultura" fosse o mesmo que "ser importante". Também, pode indicar as qualidades de uma coletividade e representar uma atividade artística.

Vemos, assim, que passar da naturalização dos seres humanos à cultura não resolve nossas dificuldades de compreensão dos humanos, uma vez que, agora, precisamos perguntar: Como é possível a palavra cultura possuir tantos sentidos?

Fonte: Chaui, Marilena. Filosofia - Série Novo Ensino Médio